sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cópia Fiel

Cópia Fiel (Certified Copy/Copie Conforme/2010, de Abbas Kiarostami, com Juliette Binoche e William Shimell) é um filme lento e suave. As cenas iniciais são vagarosas e podem até afastar o espectador menos paciente, mas vale a pena esperar pelo que vem adiante. Assim como existem a obra original e a cópia, o filme brinca com a realidade e a ficção. Há momentos em que ficamos com dúvidas sobre o que é fantasia e o que é real, mas depois entramos no jogo dos personagens e é delicioso brincar dessa forma.
Juliette Binoche, além de linda, atua com perfeição, lida naturalmente com a câmera e nos seduz com sua voz quente, entoada em três idiomas. Ela é o filme, não há filme sem a sua presença ora doce, ora eloquente ou zangada, ora amorosa, sensual, dramática. Vamos nos identificando com os diálogos que os dois criam, são palavras que já dissemos a alguém em algum momento. As situações do casal são cotidianas mas tão bem articuladas que tornam-se preciosas na sua simplicidade. Sem esquecer a beleza da região da Toscana, ensolarada, verde e florida.
No livro que William Shimell escreveu, ele diz que cópias têm tanto valor quanto o original. Dessa forma, a história desenrola-se, com os personagens assumindo seus papéis ordinários e inventando outros, que gostariam que fossem tão reais quanto os primeiros. Há diferença entre eles, quando ambos podem coexistir e ambos podem fazer o casal emocionar-se? Li algumas críticas que citam o filme de Rossellini, Viagem à Itália (1953), como tendo paralelos com Cópia Fiel, como não o assisti fiquei curiosa e já o coloquei na minha lista de prioridades cinematográficas.
Cópia Fiel é filme para ser visto muitas vezes, a cada novo olhar descobrimos detalhes não observados e absorvemos ainda mais as frases ditas pelo casal, procurando sinais do original e da imitação e percebendo que eles acabam fundindo-se em algumas ocasiões e nos deixando confusos, mas encantados. A cena final no hotel foi a mais romântica que vi no cinema, o texto de Juliette, comovente, nunca houve tanta sensualidade e amor num encontro onde duas pessoas mantiveram-se distantes fisicamente. Apenas o movimento da mão dela sobre a colcha da cama parece simular a necessidade desse contato, de uma forma tão tímida e, ao mesmo tempo, tão convidativa.
Apesar de ter um papel secundário no filme, o filho de Juliette (Adrian Moore) apresenta uma interpretação que revela-se importante na trama, o jovem esperto que quer ganhar do adulto de qualquer jeito, ficar com a palavra final, que observa tudo embora absorto em suas atividades - a relação deles também nos faz sentir intimidade com algo ocorrido em nossas vidas, seja quando fomos adolescentes ou se tivemos filhos que atravessaram essa fase. O envolvimento entre mãe e filho é significativo para que o casal construa seu castelo de sonhos, já que o garoto faz parte da suposta visão que influenciou Willliam a escrever o livro, objeto de ligação de todos e de tudo na película.

Não entendeu nada quem rotulou o filme como uma comédia romântica.

 
           Juliette enfeita-se para agradar ao "marido".


       
           Ela e o flho não caminham juntos.



          Tudo agita-se quando eles começam a encenação.




           Doce e romântica sedução, a mais bela de todas.



         Viagem á Itália (1953) -  um paralelo?